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-Sente-se e fique à vontade.
-vou pôr uma música.
-Aceita um café?
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- escolha um e vá folheando,
-volto já, com o café.
Alexandre Pedro
e-mail: alexandre.eells@gmail.com

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quinta-feira, 14 de novembro de 2013

O costume das estrelas é piscar

Ela era negra e mascava o desgaste branco do chiclete. Havia sido bela; o belo se lhe fazia agressor. Seu nome era Carrie. Falava manso, sorria tridente, mas trazia um riso mergulhado em molho tártaro. Comia com gosto o que não tem sabor. As fisgadas na curvatura vocálica faziam-na entender, e unicamente entender, que o costume das estrelas é piscar. E piscava trepidamente como que estivesse sempre em convulsão.
Em menina fora batizada na cozinha quando, por baixo da chaleira de água quente carregada pela mãe, passou correndo; fingia brincar. O espírito santo imediatamente se fez presente e deixou enorme cicatriz: marca de devoção eterna. A vida já não estava de brincadeira e lhe sorria. Carrie respondia sorvendo a saliva suja de entre os dentes: sua voz imitava a um ralo de lavanderia.
Agora, mulher feita, borbulhava feito lava dentro de um enorme cone de vulcão: Era a vida que, funilando toda ela, lhe sorvia. Carrie era o suco gástrico da inocência, e corroendo-se por dentro, o seu corpo ia incrustando, feito lava seca.
Certa vez, Irene me disse, que a vida era uma dor de dente. Por isso, narrador, eu trago um sorriso banguela pra falar na urgência alheia: O costume das estrelas é piscar.
Alexandre Pedro - O costume das estrelas

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

5 Poemas do Flores do Ócio de Alexandre Pedro: pelo Portal Cronópios.
Agradecimentos sinceros ao Pipol Cronópios por incentivo e divulgação.
http://www.cronopios.com.br/site/poesia.asp?id=5753
05/11/2013 23:45:00
Flores do ócio



Por Alexandre Pedro





Amor Tecido


Desperdicei a vida tecendo o amor;
Vagando sobre o amor tecido,
Sobre o amor ter sido
tão amortecido amor.



De lírios
Em teu jardim de lírios vejo coisas
e tenho medo de que as coisas
em delírios,
me vejam.




Dois braços
Hoje resolvi vestir uma camisa por cima da outra,
que é para sentir dois braços abraçando-me a carência.
Com o calor, me vi obrigado a amarrar as mangas
ao redor do corpo e amarrei com força pra sentir arder em mim, o desejo.
Depois, resolvi manter os botões bem abertos, e sentir o soprar do vento amenizando a minha
chama.



Inodoro
Eu sinto cheiro nas coisas opacas.
O brilho nas coisas sem cheiro.
Sinto o odor em mim, e o inodoro vazio.

Sinto um sentir, assim,
ausente de mim,

E tão presente,
Mutilado em mim
Por todos os lados.


Parasita
Minha fome tem o tamanho do mundo.
Sou, por acaso, o acaso que perdeu a inocência;
um parasita.
Nasci para a arte
de nada fazer
e a vida é a minha prova dos nove.
Vou somando horas,
subtraindo o tempo;
a vida me vai perpassando.
Deixando marcas;
na pele,
coração,
rasgando meu peito
e mostrando que se faz presente,
mas nunca deixando de esfregar em minha cara que está de partida,
e sente fome.



       *Poemas do livro Flores do Ócio



Sobre o livro: Os poemas de Flores do Ócio são um convite à brincadeira com as palavras na tentativa de burlar a insatisfação dos sentidos atribuídos a cada uma delas. O eu lírico salta de um poema para outro como num grande parque de diversão, mas é na certeza do voltar para casa que se rompe o fantástico e cai pesada a realidade dos amores partidos, da insatisfação social, dos sonhos, da certeza da morte e da Loucura, da solidão...e da própria poesia. O livro é perpassado por um “filete” de fumaça que vai costurando em aliterações e assonâncias um tecido lírico, e o resultado são jogos sinestésicos sob o uso de figuras de linguagem como a metáfora, a ironia, o paradoxo, propostos ao leitor a desvendar a poesia em cada palavra. Afinal, eis que uma flor (enclausurada) vem brotando do ócio.


                                                 * * *
 
Alexandre Pedro formou-se em Letras em 2012, na cidade de São Paulo, onde vive. Mantém um blog, Cárcere do Ser, para dissertar sobre trabalhos de outros autores. O blog tem cerca de 39.891 acessos. No curso de Letras, participou de um concurso de poesia e foi vencedor. Em 2013 lançou seu primeiro livro de poemas, intitulado Flores do Ócio, pela editora Giostri. Oautor dedica-se também ao projeto coletivo "doam-se palavras", com Adrienne Myrtes, Ale Safra, Aleksandro da Costa, Caroline Ramos, Claudio Brittes, Hugo Guimarães e Otavio Ranzani, que será lançado na Balada Literária de 2013. Blog:http://carceredoser.blogspot.com.br  Projeto "doam-se palavras":http://doamsepalavras.com.br  E-mail: alexandre.eells@gmail.com
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Outras publicações de Alexandre Pedro no Cronópios.

Entrevista sobre o livro Flores do Ócio para o Reboco Caído; por Fabio da Silva Barbosa: