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-volto já, com o café.
Alexandre Pedro
e-mail: alexandre.eells@gmail.com

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quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Liberdade de Expressão !


No último dia 25 de setembro, foi aberta a 29ª Bienal de São Paulo ao público. Neste mesmo dia, tive o prazer de assistir parte de suas obras.
O evento conta com obras de grande artistas como, Jose Leonilson, Rodrigo Andrade, Nuno Ramos, Amélia Toledo, Gil Vicente, Lygia Pape ( foto ), Jean Luc-Godard, Chantal Akerman, Flávio de Carvalho, Hélio Oiticica, Cildo Meirelles, entre muitos outros.
A 29ª Bienal conta com a curadoria de, Agnaldo Farias e Moacir do Anjos.

O que vou enfatizar e qual é o meu grande motivo desta postagem, envolve o desacato à obra Bandeira Branca,do artista plástico Nuno Ramos.

"Ergue se uma bandeira branca, e começa uma guerra."

No mesmo dia da abertura, a referida obra de Nuno Ramos, a qual o artista usa três urubus de viveiro, e os mantém presos em blocos de concreto, foi invadida, desrespeitada por um grupo de pichadores. Na frase pichada está: " LIBERTEM OS URUBU " ( sic ).

Vale realçar que os animais usados na instalação do artista, foi autorizado pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais), mas ainda assim irritou grupos de defesa dos animais, que realizaram o protesto.

O artista Nuno Ramos respeita os pichadores, e não quis prestar queixa contra o autor do vandalismo, Rafael Pixobomb.


O que quer Nuno Ramos com esta instalação?
Eis que dizem que os animais devem estar em liberdade. Mas quem está preso, os urubus ou nós? Quem somos? Não seríamos os próprios urubus?
Como podemos condenar, se somos os responsáveis por desconstruir o habitat dos animais?
Será que o artista não está colocando isso em questão?
Será que a idéia não é esfregar em nossas " fuças ", que o feio esta aí, e todos os dias fingimos não ver?
Quem são os presos, nós ou eles?
Qual é o lado de fora, e qual o de dentro?
Até que ponto fingimos nao ver?
Até que ponto fingimos não conhecer?
Até que ponto vamos nos enganar, fechar os olhos e acreditar que o mundo é perfeito?
Quantas crianças não estão nas ruas? E quantas delas em cárceres privado pelo Estado.
E o que fazemos? O que você faz?

Quem, quando está sozinho não enfia o dedo no nariz e tira uma caquinha?

Podemos ousar em dizer que ninguém nunca soltou um " PUM " embaixo das cobertas e cheirou, e cheira?

Todo ser humano é louco;, " de perto ninguém é normal ", já disseram.

Há gosto pra tudo e deve-se respeitar.

Achei a obra do artista fantástica, compreendo que se deva preservar os animais, sei que existem leis pra isso, e às quais os organizadores do evento, se preocupou em atender.
No entando, os animais estão sendo tratados e alimentados pela Fundação.

Liberdade de expressão ? Onde ?
30, setembro, 2010.
Alexandre Pedro

domingo, 26 de setembro de 2010

A FLOR E A NÁUSEA


Preso à minha classe e a algumas roupas,
Vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias espreitam-me.
Devo seguir até o enjôo?
Posso, sem armas, revoltar-me'?

Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas,
alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.

Em vão me tento explicar, os muros são surdos.

Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas,
consideradas sem ênfase.

Vomitar esse tédio sobre a cidade.
Quarenta anos e nenhum problema
resolvido, sequer colocado.
Nenhuma carta escrita nem recebida.
Todos os homens voltam para casa.
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem.

Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal.

Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Porém meu ódio é o melhor de mim.
Com ele me salvo
e dou a poucos uma esperança mínima.

Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio,
paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.

Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.

Sento-me no chão da capital do país às cinco horasda tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.