Seja bem vindo!!!
-Entre,
-Tire os sapatos,
-Sente-se e fique à vontade.
-vou pôr uma música.
-Aceita um café?
- Gosta de livros?
- escolha um e vá folheando,
-volto já, com o café.
Alexandre Pedro
e-mail: alexandre.eells@gmail.com

Pesquisar no Cárcere do Ser

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

O mundo precisa ler isso: Do livro "A Náusea", publicado em 1938, um ano antes de eclodir a Segunda Guerra Mundial


"(...) no entanto a natureza vaga penetrou em sua cidade, infiltrou-se por todo lado, em suas casas, em seus escritórios, neles próprios. Não se mexe, mantém-se quieta, e eles estão bem dentro dela, respiram-na e não a vêem, imaginam que ela está lá fora, a vinte léguas da cidade. Mas eu vejo essa natureza, vejo –a...Sei que sua submissão é preguiça, que La não tem leis: o que acreditam ser sua constância...Ela tem apenas hábitos e pode mudá-los amanhã.

Se acontecesse alguma coisa? Se de repente ela começasse a palpitar? Então eles perceberiam que ela está presente ali e teriam a impressão de que seus corações iam se quebrar. Então de que lhes serviriam seus diques e suas muralhas e suas centrais elétricas e seus altos fornos e seus martelos-pilões? Isso pode acontecer a qualquer momento, talvez imediatamente: os presságios aí estão. Por exemplo, um pai de família, passeando, verá vir em sua direção, através da rua, um trapo vermelho como que empurrado pelo vento. E quando o trapo estiver bem perto dele, verá que é um pedaço de carne podre maculada de poeira, que se arrasta, saltitando, um pedaço de carne torturada que rola nos riachos, projetando, por espasmo, jatos de sangue. Ou então uma mãe olhará para a face de seu filho e lhe perguntará: “Que que você tem aí? É uma espinha?”, e verá a carne empolar um pouco, fender-se, entreabrir-se, e, no fundo da fenda, um terceiro olho, um olho risonho surgirá. Ou então sentirão suaves roçaduras por todo o corpo, como as carícias que nos rios os juncos fazem nos nadadores. E perceberão que suas roupas se transformaram em coisas vivas. Outro sentirá que há algo arranhando sua boca. E se aproximará de um espelho, abrirá a boca: e sua língua se terá tornado uma enorme centopéia viva, que baterá as pernas e lhe arranhará o céu da boca. Tentará cuspir, mas a centopéia será uma parte dele mesmo, e ele terá que arrancá-la com as mãos. E quantidades de coisas surgirão, para as quais será preciso encontrar novos nomes, o olho de pedra, o grande braço tricorne, o artelho-muleta, a aranha maxilar. E quem estiver dormindo em sua boa cama, em seu tranqüilo quarto quente, acordará inteiramente nu num chão azulado, numa floresta de pênis estrepitoso, vermelhos e brancos, erguidos para o céu como as chaminés de Joutexbouoville, com grandes testículos meios saídos da terra, peludos e bulbosos como cebolas. E pássaros esvoaçarão em torno desses pênis e os picarão com seus bicos e os farão sangrar. Escorrerá esperma desses ferimentos, lentamente, suavemente, esperma misturado com sangue, vítreo e morno, com pequenas bolhas. Ou então nada de tudo isso acontecerá, não ocorrerá nenhuma mudança apreciável, mas as pessoas, uma manhã, ao abrirem suas persianas, serão surpreendidas por uma espécie de sentido terrível, pesadamente pousado nas coisas e que parecerá estar à espera. Apenas isso: mas por pouco tempo que isso dure, haverá centenas de suicídios. Homens inteiramente sós, sós com suas horríveis monstruosidades, correrão pelas ruas, passarão pesadamente diante de mim, os olhos fixos, fugindo de seus males e trazendo-os consigo, a boca aberta, com sua língua-inseto batendo as asas. Então estourarei de rir, mesmo se meu corpo estiver coberto de nojentas crostas suspeitas, que se abrem flores de carne, violetas, em ranúnculos. Encostar-me-ei numa parede e gritar-lhes-ei ao passarem: “Que fizeram de suas ciência? Que fizeram de seu humanismo?” Não sentirei medo. Não será tudo isso a existência, variações sobre a existência? Todos esses olhos que devorarão lentamente um rosto certamente serão demais, mas não mais do que os dois primeiros. É da existência que sinto medo.”


Imagem: O Grito - Edvard Munch, 1893

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Luto pela Palavra


Luto constante à Poesia
Luto pela Palavra
tento eximi-la de mim
e, ela me fala na lata:

Não estou em você,
Não estou pra você,
e você não está em mim.
Estou em quem me lê
e não em quem me escreve.


"Toda obra de arte traz em si o dever de ser inacabada."

Alexandre Pedro

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Da série “Inconstâncias”:

Réstias

Das janelas,
réstias de palavras sobre a mesa
Esta publicação foi removida devido a obra estar inserida no livro de estreia do autor, em breve pela Giostri Editora. Muito obrigado pelo carinho!
08/08/2011

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Feliz Dia das crianças, molecada!


Lembranças

Este foi meu segundo poema e, dedico àqueles a quem a vida lhes deu um tropeço.


Andando pelas ruas à noite;

luzes acesas projetam sombras

nas calçadas de paralelepípedos.


Lembranças da infância:

Pedrinho passa a bola,

Chuta!!! Chuta!!!

Vem me driblar...

Olha o carro!!!

Crashhhhhhh


- Pedrinho tem a sombra menor

e mais cheia que a minha.


Alexandre Pedro

Setembro, 2010



domingo, 9 de outubro de 2011

DISRITMIA

Já não vou rimar menina com menino;
vou rimar homem com barba...
quero a fruta na fruta;
a fruta da fruta, do fruto.
quero colhê-las no galho,
arrancá-las do talo.
quero trepar nas árvores
e cuspir as semen.tes e,
com as folhas,
encobrir minhas vergonhas.

Alexandre Pedro

Da Imagem: Alexander Kiselev, " A Morte de Jacinto".