Seja bem vindo!!!
-Entre,
-Tire os sapatos,
-Sente-se e fique à vontade.
-vou pôr uma música.
-Aceita um café?
- Gosta de livros?
- escolha um e vá folheando,
-volto já, com o café.
Alexandre Pedro
e-mail: alexandre.eells@gmail.com

Pesquisar no Cárcere do Ser

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Tatuagem



Tatuagem
Para G.M
Rabisquei teu nome no canhoto dos meus braços,
...*Esta publicação foi removida devido ao texto estar sendo integrado ao livro de estreia do autor, intitulado Flores do Ócio, e que será lançado em breve pela Giostri Editora. Mais informações: alexandre.eells@gmail.com
Agradeço muito a visita e o carinho dedicado.
Alexandre Pedro

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Santa Ceia



Santa Ceia

Apreciavam no prato o pedaço da morte.

Degustavam a alma sangrenta ausente no corpo.

Lambiam os lábios molhados de sangue.

Cheiravam o frescor da carniça.

Doze abutres famintos

para o dom de um Bastardo, pousavam.

Mantos vermelhos revelavam a traição, o pecado.

O sangue de lama negra das nações dos alienados,

escorria do vaso sagrado posto à mesa,

em formato vaginal.

In memoriam de Maria,

em alma

ausente.


Alexandre Pedro


revelar-se


...desvelar um segredo...
revelar - se.

Alexandre Pedro

terça-feira, 21 de junho de 2011

A Carta

Ilustração: João Grando

A carta

Tinha de ser uma carta de amor,

Mandara a ela num misto de saudade e dor,


Em seu interior a descoberta do amor arrependido e desejoso.


Quisera voltar atrás, pois, havia fugido da felicidade a dois.

Mas, a essência selada no envelope perdera-se no caminho...


Abatida pela solidão de um amor incompatível,

E, entregue ao sofrimento da desilusão,

Buscava respostas, refletia momentos,

Sorria de tristeza e chorava de alegrias.


Inconformada não encontrava razão, nem prazer.


Noutro lugar ele chorava,

Suas lágrimas eram de descoberta e almejavam perdão.


Aqui, lamentava ela a ausência do amado.


- Soluçavam...


Resolvera ele escrever a carta que acompanhava flores

e um belo cartão romântico anunciando sua volta.


Recebera ela um telefonema.


Do outro lado, uma voz suave engasgada na terceira pessoa

perguntava por Lia.

?


O cão dócil levanta as orelhas em atenção.

Um zumbido na janela anuncia os primeiros pingos de chuva.

A cortina esvoaçava.

A TV, em silêncio, anuncia um acidente na Rodovia.

Do outro lado as palavras pulsantes cravadas como um punhal, frias.


Um sussurro engasgado...

Um chão que se perde...

...Um nada.

Uma dor.

Um vazio.

...

- Vago!

- Eu Vago pela casa.

Tranco a janela,

Desligo a TV,

Apago as luzes,

Soa a campainha,

Não atendo,

Sou só e vago.

A campainha insiste,

Atendo,

Uma carta,

Um buquê,

Um cartão.


- Mas, tinha de ser uma carta de amor,

- Era a DOR.


Alexandre Pedro

SP – 25/11/2010


***Este poema tem seus DIREITOS AUTORAIS registrados na Biblioteca Nacional. Reprodução somente possível com pré autorização do autor, Alexandre N. Pedro.


sexta-feira, 17 de junho de 2011

Conceitos da Literatura

[...]"A literatura nos permite viver num mundo onde as regras inflexíveis da vida real podem ser quebradas, onde nos libertamos do cárcere do tempo e do espaço, onde podemos cometer excessos sem castigo e desfrutar de uma soberania sem limites."[...]

Mário Vargas Llosa

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Trate-me como páginas de um livro!



Trate-me como páginas de um livro
...*Esta publicação foi removida devido ao texto estar sendo integrado ao livro de estreia do autor, intitulado Flores do Ócio, e que será lançado em breve pela Giostri Editora. Mais informações: alexandre.eells@gmail.com
Agradeço muito a visita e o carinho dedicado.
Alexandre Pedro
*Fotografia: Rodrigo Nogueira

O gigolô das palavras - Texto de Luís Fernando Veríssimo

O gigolô das palavras (Luis Fernando Veríssimo)

Quatro ou cinco grupos diferentes de alunos do Farroupilha estiveram lá em casa numa mesma missão, designada por seu professor de Português: saber se eu considerava o estudo da Gramática indispensável para aprender e usar a nossa ou qualquer outra língua. Cada grupo portava seu gravador cassete, certamente o instrumento vital da pedagogia moderna, e andava arrecadando opiniões. Suspeitei de saída que o tal professor lia esta coluna, se descabelava diariamente com suas afrontas às leis da língua, e aproveitava aquela oportunidade para me desmascarar. Já estava até preparando, às pressas, minha defesa ("Culpa da revisão! Culpa da revisão !"). Mas os alunos desfizeram o equívoco antes que ele se criasse. Eles mesmos tinham escolhido os nomes a serem entrevistados. Vocês têm certeza que não pegaram o Veríssimo errado? Não. Então vamos em frente.

Respondi que a linguagem, qualquer linguagem, é um meio de comunicação e que deve ser julgada exclusivamente como tal. Respeitadas algumas regras básicas da Gramática, para evitar os vexames mais gritantes, as outras são dispensáveis. A sintaxe é uma questão de uso, não de princípios. Escrever bem é escrever claro, não necessariamente certo. Por exemplo: dizer "escrever claro" não é certo mas é claro, certo? O importante é comunicar. (E quando possível surpreender, iluminar, divertir, mover... Mas aí entramos na área do talento, que também não tem nada a ver com Gramática.) A Gramática é o esqueleto da língua. Só predomina nas línguas mortas, e aí é de interesse restrito a necrólogos e professores de Latim, gente em geral pouco comunicativa. Aquela sombria gravidade que a gente nota nas fotografias em grupo dos membros da Academia Brasileira de Letras é de reprovação pelo Português ainda estar vivo. Eles só estão esperando, fardados, que o Português morra para poderem carregar o caixão e escrever sua autópsia definitiva. É o esqueleto que nos traz de pé, certo, mas ele não informa nada, como a Gramática é a estrutura da língua mas sozinha não diz nada, não tem futuro. As múmias conversam entre si em Gramática pura.

Claro que eu não disse isso tudo para meus entrevistadores. E adverti que minha implicância com a Gramática na certa se devia à minha pouca intimidade com ela. Sempre fui péssimo em Português. Mas - isso eu disse - vejam vocês, a intimidade com a Gramática é tão indispensável que eu ganho a vida escrevendo, apesar da minha total inocência na matéria. Sou um gigolô das palavras. Vivo às suas custas. E tenho com elas exemplar conduta de um cáften profissional. Abuso delas. Só uso as que eu conheço, as desconhecidas são perigosas e potencialmente traiçoeiras. Exijo submissão. Não raro, peço delas flexões inomináveis para satisfazer um gosto passageiro. Maltrato-as, sem dúvida. E jamais me deixo dominar por elas. Não me meto na sua vida particular. Não me interessa seu passado, suas origens, sua família nem o que outros já fizeram com elas. Se bem que não tenho o mínimo escrúpulo em roubá-las de outro, quando acho que vou ganhar com isto. As palavras, afinal, vivem na boca do povo. São faladíssimas. Algumas são de baixíssimo calão. Não merecem o mínimo respeito.

Um escritor que passasse a respeitar a intimidade gramatical das suas palavras seria tão ineficiente quanto um gigolô que se apaixonasse pelo seu plantel. Acabaria tratando-as com a deferência de um namorado ou a tediosa formalidade de um marido. A palavra seria a sua patroa ! Com que cuidados, com que temores e obséquios ele consentiria em sair com elas em público, alvo da impiedosa atenção dos lexicógrafos, etimologistas e colegas. Acabaria impotente, incapaz de uma conjunção. A Gramática precisa apanhar todos os dias pra saber quem é que manda.

domingo, 12 de junho de 2011

Velhice




Velhice

...já posso sentir a lâmina de vento em minha face,

ardendo fria,

queimando-me os poros,

a alma;

lambendo o resquício de verão que havia,

e trazendo o inverno,

ainda quente,

que nasce por detrás dos montes gélidos.

É a nova estação desembarcando.

-Parada aos 34


Alexandre Pedro


Imagem: Sapato de Alexander McQueen

***Este poema tem seus DIREITOS AUTORAIS registrados na Biblioteca Nacional. Reprodução somente possível com pré autorização do autor, Alexandre N. Pedro.

http://www.bn.br/portal/index.jsp?plugin=FbnBuscaEDA&radio=CpfCnpj&codPer=15918944842



quinta-feira, 9 de junho de 2011

terça-feira, 7 de junho de 2011

A menor mulher do Mundo - Sob outras visões


"Renda-se como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei.
Não se preocupe em 'entender'.
Viver ultrapassa todo sentimento".
Clarice Lispector


Fragmento pós leitura do conto "A menor mulher do mundo", de Clarice Lispector.

A menor mulher do mundo
mulher para ser vista de cima, aos teus pés
não admirada...
mas devorada
mulher das profundezas
comparada a um bicho,
uma escrava,
um brinquedo,
uma isca.
motivo de risos,
zombarias
em seu sorrir a incompreensão de não compreender-se,
ou ser compreendida.
em seu ventre o representar da Natureza Humana,
e o terror de ser representada por algo de 45 centímetros;
estampada nas páginas dos jornais;
toda ameaçadora e, pequena.
Calada.
aquela racinha de gente, sempre a recuar e a recuar.
ah, tão Pequena Flor! tão digna de ternura!
mas ela amava, amava por não saber amar, amava o seu modo de amar, tão desgraçadamente amava.
e porque amava, não sabia o quê amar.
Não se lamentará que, para tão curta vida, longo tenha sido o trabalho. Quem já não desejou um sentimento só para si?
Pois olhe, declarou logo uma velha fechando o jornal com decisão - pois olhe, eu só lhe digo uma coisa: Deus sabe o que faz.

Alexandre Pedro

* As frases em itálico foram extraídas do conto em referência - A menor mulher do Mundo - de Clarice Lispector.

O conto "A menor mulher do Mundo" foi publicado na primeira edição de Laços de Família - Clarice Lispector.
Editora Francisco Alves, 1960.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Coletivo


Ele chega, abre a porta.
Todos se acotovelam para garantir um espaço.
Um tosse, o outro bufa feito cavalo,
Um esfrega o nariz porque está úmido,
Um fala ao celular,
Outro joga mini-game.
Duas conversam sobre a novela das oito.
Outras falam da filha do vizinho.
- Eita fogo!
Outros falam da eleição que acontecera ontem,
e nada vai acontecer.
Outros se entreolham com vontades,
Outros reclamam do atraso,
Até o maquinista reclama:
-Este trem não parte com as portas abertas!!!
Uns confundem com dark room e se roçam.
Uns com má intenção,
Outros sob a influência do mal.
Um abre a janela,
O outro fecha.
Um tenta ler um livro,
Em vão, as conversas vencem.
Um ouve seu ipod com o fone ao máximo volume,
Temos aí um futuro surdo.
Outro ouve seu ipod sem o fone e ao máximo volume,
Temos aí um presente retardado.
E eu, que só entrei neste trem
Para maquiavelizar a vida de outrem,
Me despeço, pois desço na próxima estação, Barra Funda.
Antes que alguém resolva me roçar a bunda.


Alexandre Pedro