Seja bem vindo!!!
-Entre,
-Tire os sapatos,
-Sente-se e fique à vontade.
-vou pôr uma música.
-Aceita um café?
- Gosta de livros?
- escolha um e vá folheando,
-volto já, com o café.
Alexandre Pedro
e-mail: alexandre.eells@gmail.com

Pesquisar no Cárcere do Ser

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

A verdade de uma criança é quase um fio fino de um fiapo a se romper aos ouvidos adultos. Creio que há em mim, uma criança, e por esta razão, sonho com ela todos os dias a me soprar da mais diversa poesia. E, numa delas, em forma de sonho, meu sobrinho a me perguntar sobre o video game do amigo do video game do outro amigo. Obviamente não entendi, e quis logo repassar a vez, como se num jogo fosse, à minha mãe. Obviamente, ela estava tão mais ocupada que não podia dar ouvidos aos assuntos de crianças, muito menos vindo da boca de um adulto querendo fugir ao jogo de criança. Eu pedia que ele repetisse na tentativa de poder ajudar mas, quando não acontecia uma coisa, outra coisa acontecia rompendo meus pensamentos e me impossibilitando a interpretação do jogo de palavras do menino. Até um latir de cachorro me falava mais claro que o menino. Linearmente todos os sons me tomavam o dom do discernimento, e eu nada entendia. Insistia com minha mãe a resolver aquele tão gritante e inaudível problema infantil. Tão importante para aquela criança em minha frente, e tão despercebida perante nos, adultos. Mas, minha voz era só mais um ruido no vazio em que vive os adultos. 
Por tão fio fino de fiapo se perde a poesia; se das crianças não fosse toda a calmaria que conforta o adulto nos dias da mais tensa agonia.
Alexandre Pedro

sexta-feira, 12 de outubro de 2012


Réstias:

*Esta publicação foi removida devido ao texto estar sendo integrado ao livro de estreia do autor, intitulado Flores do Ócio, e que será lançado em breve pela Giostri Editora. Mais informações: alexandre.eells@gmail.com
Agradeço muito a visita e o carinho dedicado.
Alexandre Pedro

quinta-feira, 11 de outubro de 2012


Eu sou um semideus.
Carrego comigo a nostalgia de um incesto.
Ao modelar meu corpo me foi apresentado à pederastia, e tive as mãos grossas de meu pai a me vazar as cavidades do corpo. Meu pai me teve antes de o mundo ter; cheguei nu, e desvirginado. Assim, como todas as manhãs.
Sou uma carcaça semelhante a deus. E tenho o prazer nas pontas dos dedos, e é com eles que eu cerro os punhos e rezo baixinho. Conheço o prazer, e isso devo ao meu pai, que deslizou seus dedos pelo meu corpo, ainda em barro, úmido, e concedeu-me o primeiro beijo. Beijo selado pelo nosso desejo de ser um deus. 

Alexandre Pedro

quarta-feira, 10 de outubro de 2012



De lírios 

Em teu jardim de lírios vejo coisas...*Esta publicação foi removida devido ao texto estar sendo integrado ao livro de estreia do autor, intitulado Flores do Ócio, e que será lançado em breve pela Giostri Editora. Mais informações: alexandre.eells@gmail.com
Agradeço muito a visita e o carinho dedicado.
Alexandre Pedro

sábado, 6 de outubro de 2012

Eu, e o Livro

Sonhei que atirava um livro com muita força para dele me perder. Era um livro vermelho, de capa dura e, com letras douradas. Era um livro clássico, embora a realidade não me permita lembrar seu nome. Eu me afastara rapidamente por entre os mendigos passantes naquela rua mal iluminada, e cheguei a pensar naquele momento que estaria eu à luz do Iluminismo. Mas, o cheiro que exalava era da sociedade pós moderna. Eu estava nos dias de hoje em busca do passado. Subitamente me veio uma ânsia de me ter o livro de volta. Um arrependimento começou a me paginar por dentro, e minha angústia me fez sentir que o cheiro de urina que eu sentia das ruas mal iluminadas vinha de dentro de mim. Era eu curtido na minha angústia dilacerante. Voltei desesperadamente, no tempo, talvez, pois, a rua já estava toda iluminada e o cheiro era ainda pior, na tentativa de me resgatar o livro. Eu corria pela rua lamacenta como quem nada e nada contra o nada, até que o avistei no beiral de um muro. Suas letras douradas estavam desgastadas e, o vermelho já havia se apagado. Abri-o. O desgaste estava apenas no meu desgosto e, pra minha surpresa suas páginas intactas. Pensei que este livro pudesse ter sido encontrado por algum mendigo e que o tivesse cuidado, como quem cuida de um filho sem nunca tê-lo conhecido. Mas não, o livro estivera sempre comigo. Era o meu livro de cabeceira. E nas suas páginas bem cuidadas estavam todos os sonhos de personagens que eu havia guardado pra mim. Eu era o mendigo, o cheiro, e o livro. Dentro de mim se passavam histórias que eu fingia que abraçava quando mantinha o livro comigo. Em suas páginas havia uma história inacabada, e percebo, agora, que a história é esta. 
Alexandre Pedro

Direitos à imagem: *mais canela blogger

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Eu via tudo passando; a tudo e a todos tudo se passava, e eu a ver o vulto das coisas a me admirar. Eu, que nada havia em mim. Apenas trapos luxuosos. Até a rua passava por mim, e eu não passava nunca por ela. Meus cabelos, assim como os trapos, brilhavam numa beleza indecente; de gestos partidos em sacolas luxuosas. Eu, que nada podia ter, a não ser, os olhos dos outros a desejar o que julgavam ser meus, lamentava como uma estátua abandonada numa ilha em que o sol castigava suas costas fria. Eu, morta e viva das minhas falências. Ereta e vazia. Em poses vislumbrantes de rainha eu até me parecia ser feliz a ver navios. Eu era um manequim numa vitrine, que nem um sexo me cabia o direito. Tiraram me as roupas, e eu me vi, nua, em resina. Em desespero tentei esconder meus olhos do reflexo na vitrine e, meu corpo frágil se partiu em caros cacos, e a rua parou para me ver divisando o mundo das realidades. 

Alexandre Pedro