Raízes
...eu vinha vindo pela vida.
Então, me vi na paciência de escrever sobre as raízes.
Pensei, são brancas!
E fui percebendo que havia alguma coisa já escrita, e que não eram mais como papéis virgens. Fiquei matutando aquilo na cabeça, e as raízes a crescer, pesando todo eu. Foi quando, de súbito, peguei a tesoura afiada e picotei toda aquela papelada que me contava a idade. Tudo o que fora meu estava escrito naqueles papeis que até então, eu julgava virgens. Eram contas matemáticas que, ao quadrado, me levavam às raízes.
Revoltado com a natureza das coisas fui até ao jardim questionar as flores. Olhei-as; e com revolta, arranquei-as com força, como se as puxasse pelos cabelos, e percebi suas raízes a me suplicar piedade.
Com piedade, me vi de cabelos mal cortados, e li todas as histórias por mim vividas e esquecidas, escritas no chão, por sobre as raízes brancas.
Alexandre Pedro