Com os antebraços sobre os cinco fronteiriços centímetros da mesa fitava a água tripidante-circulares na borda arredondada do copo; as mãos descansavam o queixo. Uma molécula de água se desprendia, incolor, criando volume de oxigênio ao subir, do fundo pressionado de sua massa e alcançava a linha do horizonte, observando de cima a fraca sombra da qual pertencia. Foi quando, em singular movimento - brusco, estilhaçou o fio do pensamento sorvendo de um só gole a transparência daquela liquidez matinal. A água lhe escorreu pelas paredes da garganta refrescando as amígdalas e continuamente seguiu corpo adentro naquela imensa vermelhidão. Seus pés lentamente destocaram o chão, seus braços como que levitaram, seu queixo afundou pesado com a recusa do que seria um dia de sol. Na janela lateral algumas pequeninas gotas marulhavam o falso zinco do policromado inox. Uma folha da planta no vaso ao lado acenava quase imperceptível para a manhã que se fechava trazendo, em gotículas, melancólica tempestade. O copo depositado sobre a mesa. Ainda úmido; gótico.
Alexandre Pedro