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Alexandre Pedro
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domingo, 3 de outubro de 2010
Augusto dos Anjos - Versos Intimos
Versos Íntimos
Augusto dos Anjos
Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
Augusto dos Anjos, nascido em Parnaíba, 1884.
O poema acima foi incluído no livro "Os Cem Melhores Poemas Brasileiros do Século", organizado por Ítalo Moriconi para a Editora Objetiva - Rio de Janeiro, 2001
* A imagem acima,( O casal )é obra do artista que introduziu o surrealismo
no Brasil, Ismael Nery ( 1900 - 1934 ).
Pintor de imaginação surrealista e livre, Ismael Nery registrou em suas figuras fluídas uma intensidade dramática que foi marca inconfundível. Os rostos entrelaçados, com elementos unificados – neste caso, um dos olhos – remetem ao Cubismo, movimento que, entre outras propostas, procurou “deter” o tempo, fragmentando e reorganizando plasticamente a figura. Nery era um apaixonado – em amplo sentido – e daí, talvez, essa junção material e idealizada do casal, como se fosse possível unir de tal forma os amantes a ponto de transformá-los "em um só corpo". De outro lado, as cores escuras, podem traduzir as ameaças e perigos dessa aventura, quase sempre difícil ou impossível de ser consumada.
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