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Alexandre Pedro
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Pesquisar no Cárcere do Ser

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Eu via tudo passando; a tudo e a todos tudo se passava, e eu a ver o vulto das coisas a me admirar. Eu, que nada havia em mim. Apenas trapos luxuosos. Até a rua passava por mim, e eu não passava nunca por ela. Meus cabelos, assim como os trapos, brilhavam numa beleza indecente; de gestos partidos em sacolas luxuosas. Eu, que nada podia ter, a não ser, os olhos dos outros a desejar o que julgavam ser meus, lamentava como uma estátua abandonada numa ilha em que o sol castigava suas costas fria. Eu, morta e viva das minhas falências. Ereta e vazia. Em poses vislumbrantes de rainha eu até me parecia ser feliz a ver navios. Eu era um manequim numa vitrine, que nem um sexo me cabia o direito. Tiraram me as roupas, e eu me vi, nua, em resina. Em desespero tentei esconder meus olhos do reflexo na vitrine e, meu corpo frágil se partiu em caros cacos, e a rua parou para me ver divisando o mundo das realidades. 

Alexandre Pedro

4 comentários:

  1. Luxuosos trapos
    Longe dos farrapos
    Seria a sabedoria feito sapo?
    Todos olhavam tudo
    Tudo saboreava o todo
    Afetos que se desafetam causam sombra/toldo...

    Ale, que 'diacho' de texto bão esse!!!
    Até me inspirou!!!

    bjsMeus*
    CAtita

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  2. Manequim que não pode exprimir, sentimentos ilhados, que afogam sensações. Matam desejos, matam sonhos; só não mata a realidade fria que passa diante dos olhos pintados. As mãos já não podem tocar. As mãos não alcançam o que o coração não suporta. O coração de pedra é alheio aos olhos dos que desejam não a si, mas suas camadas. Por baixo de tudo há um coração que bate e grita. Mas as camadas por cima abafam tudo. As camadas que são vistas e desejadas. Ah! se pudessem entender o coração quente que se oculta. O sorriso viria leve e a luz do Sol abençoaria novamente toda a estrada a percorrer, ainda vazia.

    Alexandre, meu caro, de onde brotam as palavras que escrevo quando leio teus textos? Talvez porque você toque esse coração oculto que não sabe existir sem uma tua inspiração. Abraços, queridão.
    (e obrigado por me ensinar a ver o caminho que você vai abrindo!)

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  3. Oh, queridos! Vcs é que são minhas fontes; quando escrevo já sei a quem o estou fazendo, e muito feliz fico quando vejo que de alguma forma eu me fiz entender; foi pra vc´s. Agora, que lindo isso!: "As camadas que são vistas e desejadas. Ah! se pudessem entender o coração quente que se oculta."
    Adoro vc´s dois, cabeções! :||

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  4. Aqui tirando meu chapéu de Pessoa. Babando..
    Amei seo Alexandre!

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