Ela era negra e mascava o desgaste branco do chiclete. Havia sido bela; o belo se lhe fazia agressor. Seu nome era Carrie. Falava manso, sorria tridente, mas trazia um riso mergulhado em molho tártaro. Comia com gosto o que não tem sabor. As fisgadas na curvatura vocálica faziam-na entender, e unicamente entender, que o costume das estrelas é piscar. E piscava trepidamente como que estivesse sempre em convulsão.
Em menina fora batizada na cozinha quando, por baixo da chaleira de água quente carregada pela mãe, passou correndo; fingia brincar. O espírito santo imediatamente se fez presente e deixou enorme cicatriz: marca de devoção eterna. A vida já não estava de brincadeira e lhe sorria. Carrie respondia sorvendo a saliva suja de entre os dentes: sua voz imitava a um ralo de lavanderia.
Agora, mulher feita, borbulhava feito lava dentro de um enorme cone de vulcão: Era a vida que, funilando toda ela, lhe sorvia. Carrie era o suco gástrico da inocência, e corroendo-se por dentro, o seu corpo ia incrustando, feito lava seca.
Certa vez, Irene me disse, que a vida era uma dor de dente. Por isso, narrador, eu trago um sorriso banguela pra falar na urgência alheia: O costume das estrelas é piscar.
Alexandre Pedro - O costume das estrelas
Seja bem vindo!!!
-Entre,-Tire os sapatos,-Sente-se e fique à vontade.-vou pôr uma música.-Aceita um café?- Gosta de livros?- escolha um e vá folheando,-volto já, com o café.
Alexandre Pedro
e-mail: alexandre.eells@gmail.com
Pesquisar no Cárcere do Ser
quinta-feira, 14 de novembro de 2013
quinta-feira, 7 de novembro de 2013
5 Poemas do Flores do Ócio de Alexandre Pedro: pelo Portal Cronópios.
Agradecimentos sinceros ao Pipol Cronópios por incentivo e divulgação.
http://www.cronopios.com.br/site/poesia.asp?id=5753
Agradecimentos sinceros ao Pipol Cronópios por incentivo e divulgação.
http://www.cronopios.com.br/site/poesia.asp?id=5753
05/11/2013 23:45:00 Flores do ócio Por Alexandre Pedro ![]() Amor Tecido Desperdicei a vida tecendo o amor; Vagando sobre o amor tecido, Sobre o amor ter sido tão amortecido amor. De lírios Em teu jardim de lírios vejo coisas e tenho medo de que as coisas em delírios, me vejam. Dois braços Hoje resolvi vestir uma camisa por cima da outra, que é para sentir dois braços abraçando-me a carência. Com o calor, me vi obrigado a amarrar as mangas ao redor do corpo e amarrei com força pra sentir arder em mim, o desejo. Depois, resolvi manter os botões bem abertos, e sentir o soprar do vento amenizando a minha chama. Inodoro
Eu sinto cheiro nas coisas opacas.
O brilho nas coisas sem cheiro. Sinto o odor em mim, e o inodoro vazio. Sinto um sentir, assim, ausente de mim, E tão presente, Mutilado em mim Por todos os lados.
Parasita
Minha fome tem o tamanho do mundo. Sou, por acaso, o acaso que perdeu a inocência; um parasita. Nasci para a arte de nada fazer e a vida é a minha prova dos nove. Vou somando horas, subtraindo o tempo; a vida me vai perpassando. Deixando marcas; na pele, coração, rasgando meu peito e mostrando que se faz presente, mas nunca deixando de esfregar em minha cara que está de partida, e sente fome. *Poemas do livro Flores do Ócio ![]() Sobre o livro: Os poemas de Flores do Ócio são um convite à brincadeira com as palavras na tentativa de burlar a insatisfação dos sentidos atribuídos a cada uma delas. O eu lírico salta de um poema para outro como num grande parque de diversão, mas é na certeza do voltar para casa que se rompe o fantástico e cai pesada a realidade dos amores partidos, da insatisfação social, dos sonhos, da certeza da morte e da Loucura, da solidão...e da própria poesia. O livro é perpassado por um “filete” de fumaça que vai costurando em aliterações e assonâncias um tecido lírico, e o resultado são jogos sinestésicos sob o uso de figuras de linguagem como a metáfora, a ironia, o paradoxo, propostos ao leitor a desvendar a poesia em cada palavra. Afinal, eis que uma flor (enclausurada) vem brotando do ócio. * * *
Alexandre Pedro formou-se em Letras em 2012, na cidade de São Paulo, onde vive. Mantém um blog, Cárcere do Ser, para dissertar sobre trabalhos de outros autores. O blog tem cerca de 39.891 acessos. No curso de Letras, participou de um concurso de poesia e foi o vencedor. Em 2013 lançou seu primeiro livro de poemas, intitulado Flores do Ócio, pela editora Giostri. Oautor dedica-se também ao projeto coletivo "doam-se palavras", com Adrienne Myrtes, Ale Safra, Aleksandro da Costa, Caroline Ramos, Claudio Brittes, Hugo Guimarães e Otavio Ranzani, que será lançado na Balada Literária de 2013. Blog:http://carceredoser.blogspot.com.br Projeto "doam-se palavras":http://doamsepalavras.com.br E-mail: alexandre.eells@gmail.com
|
![]() |
![]() | Outras publicações de Alexandre Pedro no Cronópios. |
Entrevista sobre o livro Flores do Ócio para o Reboco Caído; por Fabio da Silva Barbosa:
Mais uma bela flor no jardim do ócio
Por Fabio da Silva BarbosaAlexandre Pedro lançou Flores do Ócio em 2013 e desde então vem ganhando espaço para divulgar este trabalho. Observando o número crescente de pessoas do meio independente que comentam sobre o assunto, bateu logo aquela vontade de estabelecer contato. Enviei algumas perguntas para conhecer mais.Como foi o lançamento do Flores do Ócio?O livro foi lançado no dia 26 de outubro de 2013: Foi um sucesso. Estiveram presentes professores de onde me formei em Letras, ex-alunos, amigos, família e muitos amigos que até então eram apenas virtuais.O processo de construção do livro:A ideia inicial era fazer uma antologia com todo o material escrito até então, no entanto, no dia em que o material estava indo para a gráfica, recebi o convite da editora Giostri para publicação de uma seleção de poemas. Nasceu daí o Flores do Ócio. O livro traz fragmentos corriqueiros do cotidiano transformados, através do ócio - de nada fazer, em poesia.O que o leitor pode esperar dessa obra?O leitor encontrará uma linguagem que se faz urgente, de uma percepção rápida, onde uma palavra distorce o contexto e se faz poesia. O autor busca sempre, através do uso de figuras de linguagem, alcançar diversos sentidos para um único verso e através do uso de linguagem tenta abster-se de todo o sentido, se fazendo ausente no texto, ainda que o eu lírico grite em primeira pessoa.Existem outros projetos em andamento?Sim. Tenho material para um novo livro que receberá o título de Cárcere do Ser. A ideia é transformar meu blog, hoje com 39.883 visitas, em livro. Seguindo a mesma linha de Flores do Ócio, trará uma linguagem um tanto menos “digerível”. Serão abordados temas como a loucura, morte, idade, sexo, poesia e a linguagem.Principais influências:Não sei se posso afirmar que meus textos sofrem influência de algum autor. Somos influenciados o tempo todo e por tudo. Meus grandes mestres são Jean-Paul Sartre, Drummond, Fernando Pessoa, Jean Genet, Hilda Hilst, Milan Kundera e Clarice. Mas acho muita soberba dizer que meus textos são influenciados por tão grandes mestres. Nunca estarei à altura de me comparar. Penso que afirmar influência é um tanto que se comparar a.Palavras finais:O livro foi publicado pela editora Giostri. Estou bem satisfeito com o resultado final. Tenho recebido um bom retorno de pessoas do ramo da literatura, poetas, escritores e isso me faz realizado. Por enquanto estou tentando divulgar este livro e fazer com que as coisas aconteçam. Não posso deixar este momento passar, pois é agora que as pessoas começaram a levar o meu trabalho a sério. Estes 15 minutos de “fama” precisam ser bem trabalhados e é nisso que estou apostando no momento.Agradeço imensamente ao convite pra participar com este questionário, Fabio.Forte abraço
Assinar:
Postagens (Atom)