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Alexandre Pedro
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domingo, 3 de outubro de 2010

Baltazar e Blimunda


Baltazar e Blimunda ( José SARAMAGO )

Criados por Saramago, Baltazar e Blimunda formam o casal protagonista da obra " Memorial do Convento".

No livro, o autor narra a história, do Rei João V que após várias tentativas em vão de ter um filho homem, aceita a proposta feita por Frei Antônio, que se construisse um convento em Mafra, a Força Divina lhe concederia um sucessor.

O padre Bartolomeu, conhecido como " O Voador ", nem tão fiel a Santa Igreja, tem um projeto de construir uma passarola ( objeto voador ). Projeto este, o qual a Igreja e o Poder Real não devem saber, por ser considerada heresia.

Baltazar, conhecido como Sete Sois, após ter seu braço mutilado durante a Guerra de Sucessão ( 1704 - 1712 ), é excluído do exército, e durante sua volta pra casa, sem dinheiro, pede esmolas pra sobreviver e junta o máximo de dinheiro para poder colocar um gancho no lugar de sua mão.
Ao chegar em Mafra, está acontecendo o Auto de Fé, onde será queimada a mãe de Blimunda, por ser considerada, bruxa.
O casal neste momento ainda não se conhece, e a mãe de Blimunda, que tem o dom da visão, em suas últimas palavras diz que o homem que está ao lado de sua filha, será seu grande companheiro. Blimunda não pode demonstrar ser filha da "bruxa", então se cala.
Terminada a cerimônia, Blimunda olha para o lado e pergunta pelo nome do rapaz, e em silêncio seguem para casa de Blimunda. Ao chegar em casa, Blimunda entra e deixa a porta aberta pra que Baltazar entre; sem trocar nenhuma palavra.
Após o jantar ( em silêncio ), Baltazar diz ir embora e Blimunda pede para ele ficar.


«(…) Fica, enquanto não fores, será sempre tempo de partires, Por que queres tu que eu fique, Porque é preciso, Não é razão que me convença, Se não quiseres ficar, vai-te embora, não te posso obrigar, Não tenho forças que me levem daqui, deitaste-me um encanto, Não deitei tal, não disse uma palavra, não te toquei, Olhaste-me por dentro, Juro que nunca te olharei por dentro,
Juras que não o farás e já o fizeste, Não sabes de que estás a falar, não te olhei por dentro, Se eu ficar, onde durmo, Comigo.

Deitaram-se. Blimunda era virgem. Que idade tens, perguntou Baltazar, e Blimunda respondeu, Dezanove anos, mas já então se tornara muito mais velha. Correu algum sangue sobre a esteira. Com as pontas dos dedos médio e indicador humedecidos nele, Blimunda persignou-se e fez uma cruz no peito de Baltazar, sobre o coração. Estavam ambos nus. Numa rua perto ouviram vozes de desafio, bater de espadas, correrias. depois o silêncio. Não correu mais sangue.
Quando, de manhã, Baltazar acordou, viu Blimunda deitada ao seu lado, a comer pão, de olhos fechados. só os abriu, cinzentos àquela hora, depois de ter acabado de comer, e disse, Nunca te olharei por dentro(...)»



Blimunda tem o dom da visão, mas este só lhe acontece em jejum.
Baltazar e Blimunda são cúmplices na construção da passarola, uma vez que esta é em segredo à todos, Igreja e o Poder Real; ele pela habilidade com o gancho inserido no lugar da mão, e Blimunda por enxergar o que os outros não veêm.

O casal representa a classe oprimida, que fora obrigada, à força de armas, a abandonar suas casas para cumprir a promessa do Rei...

*Obs: A substituição de pontuações por vírgulas, é característica da narrativa de José Saramago.

José Saramago in Memorial do Convento, p.56; Editorial Caminho, 15ª edição, Lisboa 1985

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