
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
No poema o poeta vê um homem revirando o lixo em busca de comida. O poeta compara o homem ao animal, que "devora" o lixo-alimento com voracidade, diferente do modos do homem-humano se alimentar, Degustar. E ao final do poema, ele mostra a degradação do homem, em direção à animização.
Não era um cão - era menos que um cão.
Não era um gato - era menos ainda que um gato.
Não era um rato - era ainda menos, menos ainda que um rato.
E se volta a Deus...desacreditado e inconformado.
"O bicho, meu Deus, era um homem".
PS. Impossível não me sentir na obrigação de pedir-lhes desculpa pelo confronto entre um poema lindo do Bandeira, e esta imagem forte de uma realidade que melhor seria não existir. Mas ela existe e não podemos fingir um mar de rosas, quando ele não existe.
Alexandre Pedro