Seja bem vindo!!!
-Entre,
-Tire os sapatos,
-Sente-se e fique à vontade.
-vou pôr uma música.
-Aceita um café?
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- escolha um e vá folheando,
-volto já, com o café.
Alexandre Pedro
e-mail: alexandre.eells@gmail.com

Pesquisar no Cárcere do Ser

domingo, 18 de setembro de 2011

Spa da Mente

Carregava ele, sua cabeça nos braços. Seu corpo encurvava, todo ele, em sua jornada. Os dias se tornavam pesados em sua total intensidade. Buscava abraçar os filhos ao chegar do trabalho, mas suas forças eram tão majestosamente exausta que caía ele na poltrona a observar a tv, sem força para ligá-la. A cabeça repousada, ao lado.
Com muito, muito esforço pegava o controle e com um leve tocar de dedos clicava fazendo arder em chamas aquele enorme tubo negro. Dava para se ouvir um chiado. Como se um mundo abrisse à sua frente. Seus dedos tensos mergulhavam nos botões duros do controle. Um fragmento do tempo falhara e, nesse átmo entrava ela, em cena.
O brilho da tela fazia com que sua companheira, a cabeça, despertasse e ficasse ali, de novo, vividamente a observar, com ar desprezível, seu companheiro. Ela lhe condenava os dias; um fardo árduo nos braços.
Agora ela o encarava; olhar desafiante; fitava-o como a demonstrar toda insignificância do seu ser mutilado. Suas forças esvaiam-se por toda.
Não se auto conhecia a priori pra duelar com sua companheira. Olhava-a, bastava e já se cansava.
Então, foi quando na parede da sala, em um quadro imenso que a enfeitava, num recorte da tela onde se podia ver uma cidade, onde se podia ver, também, uma casa, um jardim, e no jardim podia ver-se crianças, e cada uma delas, segurava em suas pequeninas mãos um pirulito, ele percebeu-se na vida. A vida estava naquele ser redondinho, amarelinho que, todo salivado, concentrava toda atenção daquela não mais criança. O mundo era sua vida, sua vida era sua casa. Sua casa era seu limite. Seu limite estava ali, na tv, no controle. Ele era o limite de si mesmo. Saboreava com dissabor a vida que lhe brilhava na tela. E a confusão estava feita em sua pesada cabeça. Foi quando, assustado, saltou engolindo a saliva. Foi a primeira vez que fizera duas coisas ao mesmo tempo e ainda, sem pensar. A personagem da tv havia deixado de contracenar e agora trocava palavras com ele. Palavras de saber que ele correspondia e sentia-se orgulhoso, astuto, obstinado, até viril se achava, por haver no mundo, alguém que lhe prostrasse a sua frente e sorrisse junto dele; para ele e pela primeira vez, com ele. E ela, a cabeça, começara a rir, rir, simplesmente, rir daquela cena ignorante, e sua insignificância se desfez. Seus braços já não podiam sentir o peso de sua cabeça. A consciência voltara para aquela caixinha cinzentinha com gavetinhas; ele deixara aquela sala; agora seu mundo estava pintado na tela: da tv. Ele voltara a ser criança. A moça na tela da tv era uma fada. A fada vento. E lhe entregara uma espada. A espada mente.

Alexandre Pedro

6 comentários:

  1. A necessidade que temos de encontrar amparo no passado diz, principalmente, do nosso medo do agora e do futuro. Não tema grandemente, meu querido! Use o temor saudável para vigiar o caminho, mas siga cada vez mais...
    Excelente post... Bravo!!!

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  2. O cansaço q amortece e esgota toda a possibilidade de vontade, como se o nosso tamanho fosse detrimentado por nossas horas de trabalho. mas a vida, em nós, luta por sobreviver e arrancar-nos de auges extremos de cansaço. é a tv, é a janela, é a criança, é o pirulito. é o nada cotidiano de sempre q, de repente, grita e chama à vd. fiat lux!

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  3. Meninas e menino,
    Obrigado, vc´s são minha força!
    bjs

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