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-vou pôr uma música.
-Aceita um café?
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- escolha um e vá folheando,
-volto já, com o café.
Alexandre Pedro
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Pesquisar no Cárcere do Ser

sábado, 6 de outubro de 2012

Eu, e o Livro

Sonhei que atirava um livro com muita força para dele me perder. Era um livro vermelho, de capa dura e, com letras douradas. Era um livro clássico, embora a realidade não me permita lembrar seu nome. Eu me afastara rapidamente por entre os mendigos passantes naquela rua mal iluminada, e cheguei a pensar naquele momento que estaria eu à luz do Iluminismo. Mas, o cheiro que exalava era da sociedade pós moderna. Eu estava nos dias de hoje em busca do passado. Subitamente me veio uma ânsia de me ter o livro de volta. Um arrependimento começou a me paginar por dentro, e minha angústia me fez sentir que o cheiro de urina que eu sentia das ruas mal iluminadas vinha de dentro de mim. Era eu curtido na minha angústia dilacerante. Voltei desesperadamente, no tempo, talvez, pois, a rua já estava toda iluminada e o cheiro era ainda pior, na tentativa de me resgatar o livro. Eu corria pela rua lamacenta como quem nada e nada contra o nada, até que o avistei no beiral de um muro. Suas letras douradas estavam desgastadas e, o vermelho já havia se apagado. Abri-o. O desgaste estava apenas no meu desgosto e, pra minha surpresa suas páginas intactas. Pensei que este livro pudesse ter sido encontrado por algum mendigo e que o tivesse cuidado, como quem cuida de um filho sem nunca tê-lo conhecido. Mas não, o livro estivera sempre comigo. Era o meu livro de cabeceira. E nas suas páginas bem cuidadas estavam todos os sonhos de personagens que eu havia guardado pra mim. Eu era o mendigo, o cheiro, e o livro. Dentro de mim se passavam histórias que eu fingia que abraçava quando mantinha o livro comigo. Em suas páginas havia uma história inacabada, e percebo, agora, que a história é esta. 
Alexandre Pedro

Direitos à imagem: *mais canela blogger

2 comentários:

  1. E a gente acredita que é um anjo, do céu ou do inferno, e que vai mudar a história da sistemática humana. O tempo passa, as cores desbotam, o clássico não sucumbe à luz, as histórias são só estórias. Os papéis dos desejos intactos porque não se transformam nos projetos, são só papéis rascunhados. O cheiro da consequência do que apodrece; nada contra a corrente que não existe; porque os papéis, aqueles papéis, não se transformam em projetos... Intactos, a mendicância da realidade esfarrapada corrói tudo por fora e o que está lá dentro não nasce, não irrompe, a capa é dura, as letras douradas ainda prevalecem... os papéis! cadê as letras dos papéis? Minhas histórias, não são minhas histórias, são apenas as estórias de um desejo subjugado pela beleza da capa dura.

    Alexandre, seu lindo, depois de reler umas cinco vezes, a celulose que entrou pelos poros tinha essas palavras estampadas. Abraços, querido! Daniel.
    http://dagarpower.blogspot.com

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  2. E a realidade te alcançou a tempo...Muito bom!

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