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-volto já, com o café.
Alexandre Pedro
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Pesquisar no Cárcere do Ser

quinta-feira, 5 de abril de 2012

A pedra me filosofava

Sonhei; estava à beira de uma estrada, dessas sem destinos, com vultos passando de um lado para o outro.
Sentado sobre a pedra, eu assistia o mundo faminto. Era um mundo sem fundo em sua oquidão, meu Deus! Passantes me olhavam e não me viam. Pensava eu, se estava eu acordado ou, se os passantes é que dormiam. Senti, nos olhos de uma criança, o olhar dos dias idos. Dentro daqueles olhinhos vi toda a minha vida se passando; meu despertar e o meu dia interrompido.
Sentado sobre a tal pedra eu me sentia carregando-a. Não era uma pedra pra se entregar ao repouso, era antes, o peso das minhas costas que eu havia despercebido e sentado sobre o meu próprio peso. Então, uma senhora me percebeu e com seus dedos amarrotados me tocou oferecendo-me um cigarro. Perguntou-me o nome, e o que fazia eu por lá.
Respondi, acenando com a cabeça; e apenas sorri. Por gratidão ofereci-lhe a pedra. Era tudo o que eu tinha. Mas antes que ela respondesse, hesitei. Dei meu último trago no cigarro. Como seria difícil me desprender daquela pedra! A pedra era eu.
No entanto, como se a velha soubesse do meu apego pela pedra, quis tomá-la.
A pedra me filosofava.
Eu trazia o nada em minhas mãos; nem mãos eu trazia. Era como se eu sonhasse que acordava dormindo num sono profundo de nuvens arredias. A vida já não era um menino; a vida era uma velha vingança e, me dizia.
....
....
...que eu haveria de comer a própria boca, sepulcrar meu próprio grito, e escrever, com sangue , a própria história . E a cada letra grafada, arrancaria uma unha para escrever a próxima. E me arrancaria, também, os olhos, ao ler minha história no rastro rasgado pela vida.
Alexandre Pedro

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