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Alexandre Pedro
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terça-feira, 9 de novembro de 2010

Morte e Vida Severina - João Cabral M.Neto

O retirante explica ao leitor quem é e a que vai.

— O meu nome é Severino,
como não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria
como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias.


Mais isso ainda diz pouco:
há muitos na freguesia,
por causa de um coronel
que se chamou Zacarias
e que foi o mais antigo
senhor desta sesmaria.

Como então dizer quem falo
ora a Vossas Senhorias?
Vejamos: é o Severino
da Maria do Zacarias,
lá da serra da Costela,
limites da Paraíba.

Mas isso ainda diz pouco:
se ao menos mais cinco havia
com nome de Severino
filhos de tantas Marias
mulheres de outros tantos,
já finados, Zacarias,
vivendo na mesma serra
magra e ossuda em que eu vivia.

Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas
e iguais também porque o sangue,
que usamos tem pouca tinta.

E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença
é que a morte severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida).

Somos muitos Severinos
iguais em tudo e na sina:
a de abrandar estas pedras
suando-se muito em cima,
a de tentar despertar
terra sempre mais extinta,

a de querer arrancar
alguns roçado da cinza.
Mas, para que me conheçam
melhor Vossas Senhorias
e melhor possam seguir
a história de minha vida,
passo a ser o Severino
que em vossa presença emigra.

O vídeo anexo é a parte inicial de uma mini-série da Rede Globo intitulada Morte e Vida Severina, baseada no obra de João Cabral de Melo Neto, de mesmo nome. Gravada em 1981, e conta com participações de José Dumont, Elba Ramalho e Tânia Alves. Direção Walter Avancini, e trilha sonora de Chico Buarque.


5 comentários:

  1. Aleee...
    Muito triste e muito dramática essa realidade de andanças...de mudanças...de magrezas...
    Sabe o que adorei mais...?!
    O retirante...aquele que se retira...está o tempo todo se colocando...e dizendo quem ele é...e ele começa assim...se diferenciando de todos os outros...Severinos...para depois...se igualar à todos os outros...

    "...é o Severino
    da Maria do Zacarias,
    lá da serra da Costela,
    limites da Paraíba..."

    "...Somos muitos Severinos
    iguais em tudo e na sina..."

    Lindo Aleeee...

    Beijos
    Leca

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  2. Oi Alexandre...

    Olha só, não tenho palavras pra falar do João Cabral de Mello Neto.
    Eu simplesmente leio e releio cada frase dele, sabe? Principalmente nesse poema... É uma resposta, uma reflexão, um comentário, um explicação, uma poesia, uma prosa, uma convera sincera... um algo a dizer. É tudo
    Obrigada por me lembrar disso

    Beijos

    Carla

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  3. Oi Carla, como vai?
    Obrigado pela participação.
    João Cabral....e eu que ainda só o estou descobrindo, tenho tanto ainda por me deliciar...
    Obrigado pelo carinho e força,
    Seja bem vinda!!!
    Bjs
    Alexandre Pedro

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  4. Olá Alexandre.. que bom que gostou dos meus textos... eles são apenas um exercício de dramaturgia... mas que adoro fazer... já algum tempo eu visito o seu blog, cheguei aqui através da Clarice Lispector, mas só agora passei a seguir... já que voce tem tantas coisas interessantes e importantes para qualquer escritor... parabéns! e abraço!

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  5. Vejam Morte e Vida Severina em animação no YouTube. http://www.youtube.com/watch?v=alOXpuFX8yo

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