Com o discernimento novamente virgem, todo o meu tédio pude ver de um corpo estranho. Não era meu aquele corpo mergulhado numa tigela de tédio borbulhante. A calmaria da paisagem opaca do quadro pendurado na parede de um amarelo envelhecido era o cenário de mim, personagem do livro que estava em minhas mãos, aberto, próximo de minhas narinas. Aproximei ainda mais na tentativa de separar o cheiro do livro dos cheiros das palavras; e mais ainda, a separar o cheiro de cada palavra para ver se diferiam. Percebi então, que, as páginas amareladas pelo tempo ainda guardavam o cheiro contido de cada palavra. As palavras eram perfumadas de acordo com a sua adjetivação; palavras a ser conjugadas tinham o mesmo cheiro indefinido; enquanto, as adjetivais eram sempre as mais intensas; umas cheiravam imensamente bem, outras, quase insuportáveis.
Cada palavra era um artigo em minhas mãos, e tive medo. Meus olhos, de tão próximos, começaram a me sugerir uma leve sensação de desconforto; como se as palavras a mim tomassem, ou me embebedassem. A vista toda embaraçada.
Aquela mistura de cheiros, de repente, percebendo o parecer da minha hesitação, se revolta contra mim e me expele em espirros irritantes, e me vejo segurando o livro velho, absurdamente molhado por um personagem que saíra de mim.
No marcador de páginas constava escrito em sinuosa caligrafia os desejos de mamãe: um dia você vai ser um Dr. de Livros, meu filho.
Alexandre Pedro - Doutor de Livros
O cheiro da palavra é algo muito preciso e conciso! Cada palavra deixada numa folha é um cheiro a exalar um sentido num futuro próximo! Se engana quem pensa que precisa de perfume... precisa só de palavras!
ResponderExcluirLindo texto! Com cheiro de quem escreve muito alem do que lê.
Bjsss meusss
CAtita
Sr. Dr. de Livros, especialista na medicina vernacular, receite-me poesia e prosa, prescreva-me literatura em cavalares doses.
ResponderExcluirHaicais homeopáticos; sonetos equivalentes; arranque-me desse estado sorumbático!
Teu cheiro me cheira bem; teu unguento aguento.
Mas, se falhar a ciência escrita, vou na fé, na liturgia da palavra fluída.
Abraços, meu querido! Literalmente falando! Adorei.
Ler, é uma arte. É o que difere, um ser do outro. O conhecimento. Estou cá, para lembrar que estou lhe seguindo pelo seu blogue. Por sinal, belissimo, no mais intenso significado da palavra.
ResponderExcluirFelicidades, certamente, estarei neste espaço, ledo quase que cotidianamente.
Felicidades
Rosa dos Ventos, está entre os melhores shows, que a Maria Bethânia, já fez. Adoro Bethânia, assim como gosta da Gal, e sou fã, do Chico Buarque. Evidentemente que nada tem haver este comentário com a sua postagem. Apenas estou por este agradecendo e agradecido, por mais uma vez, ter enobrecido o meu blogue, com um comentário valioso. Estamos gratos. Felicidades, sempre y siempre.
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