Seja bem vindo!!!
-Entre,
-Tire os sapatos,
-Sente-se e fique à vontade.
-vou pôr uma música.
-Aceita um café?
- Gosta de livros?
- escolha um e vá folheando,
-volto já, com o café.
Alexandre Pedro
e-mail: alexandre.eells@gmail.com

Pesquisar no Cárcere do Ser

quinta-feira, 21 de junho de 2012



Abri um livro qualquer em qualquer página numa situação qualquer a me apegar a qualquer distração e fui arrebatado por aquele cheiro de infância; de páginas novas, com letras ainda pregadas umas às outras a fazer barulhinhos ao separar das páginas. Uma nostalgia se apoderou dos meus instintos e me fez criança outra vez.
Com o discernimento novamente virgem, todo o meu tédio pude ver de um corpo estranho. Não era meu aquele corpo mergulhado numa tigela de tédio borbulhante. A calmaria da paisagem opaca do quadro pendurado na parede de um amarelo envelhecido era o cenário de mim, personagem do livro que estava em minhas mãos, aberto, próximo de minhas narinas. Aproximei ainda mais na tentativa de separar o cheiro do livro dos cheiros das palavras; e mais ainda, a separar o cheiro de cada palavra para ver se diferiam. Percebi então, que, as páginas amareladas pelo tempo ainda guardavam o cheiro contido de cada palavra. As palavras eram perfumadas de acordo com a sua adjetivação; palavras a ser conjugadas tinham o mesmo cheiro indefinido; enquanto, as adjetivais eram sempre as mais intensas; umas cheiravam imensamente bem, outras, quase insuportáveis.
Cada palavra era um artigo em minhas mãos, e tive medo. Meus olhos, de tão próximos, começaram a me sugerir uma leve sensação de desconforto; como se as palavras a mim tomassem, ou me embebedassem. A vista toda embaraçada.
Aquela mistura de cheiros, de repente, percebendo o parecer da minha hesitação, se revolta contra mim e me expele em espirros irritantes, e me vejo segurando o livro velho, absurdamente molhado por um personagem que saíra de mim.
No marcador de páginas constava escrito em sinuosa caligrafia os desejos de mamãe: um dia você vai ser um Dr. de Livros, meu filho.


Alexandre Pedro - Doutor de Livros

4 comentários:

  1. O cheiro da palavra é algo muito preciso e conciso! Cada palavra deixada numa folha é um cheiro a exalar um sentido num futuro próximo! Se engana quem pensa que precisa de perfume... precisa só de palavras!

    Lindo texto! Com cheiro de quem escreve muito alem do que lê.

    Bjsss meusss

    CAtita

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  2. Sr. Dr. de Livros, especialista na medicina vernacular, receite-me poesia e prosa, prescreva-me literatura em cavalares doses.
    Haicais homeopáticos; sonetos equivalentes; arranque-me desse estado sorumbático!
    Teu cheiro me cheira bem; teu unguento aguento.
    Mas, se falhar a ciência escrita, vou na fé, na liturgia da palavra fluída.
    Abraços, meu querido! Literalmente falando! Adorei.

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  3. Ler, é uma arte. É o que difere, um ser do outro. O conhecimento. Estou cá, para lembrar que estou lhe seguindo pelo seu blogue. Por sinal, belissimo, no mais intenso significado da palavra.
    Felicidades, certamente, estarei neste espaço, ledo quase que cotidianamente.
    Felicidades

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  4. Rosa dos Ventos, está entre os melhores shows, que a Maria Bethânia, já fez. Adoro Bethânia, assim como gosta da Gal, e sou fã, do Chico Buarque. Evidentemente que nada tem haver este comentário com a sua postagem. Apenas estou por este agradecendo e agradecido, por mais uma vez, ter enobrecido o meu blogue, com um comentário valioso. Estamos gratos. Felicidades, sempre y siempre.

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